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Cinco perguntas para André Rodrigues

Residindo em Curitiba desde 1998, o fotógrafo e jornalista André Rodrigues, de 43 anos, respondeu as nossas cinco perguntas de forma didática e com muita reflexão sobre diversos aspectos da fotografia.

Esse paulista de Presidente Prudente, interior de São Paulo, iniciou sua carreira como colaborador de agência e posteriormente como repórter-fotográfico no jornal Gazeta do Povo (2012-2014).

Organizou e participou de exposições como a “Curitiba Protesta” (Memorial de Curitiba), “Eleições (Livrarias Curitiba), entre outras.

André publicou dois livros “Biometria e Eleição” e “Indeleble” e a publicação em formato jornal “F(V)OTO”. Em 2015 foi vencedor no 12º Salão Pérsio Galambeck de Fotografia no tema “Street Photography” e finalista do Concurso Latinoamericano de Fotografía Documental “Los trabajos y los días”.

Atualmente está se dedicando a trabalhos fotográficos independentes com interesse em questões contemporâneas, comportamento humano e alguns lances autorais.

Ele – que já foi diretor da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Paraná (Arfoc-PR) e co-organizou o projeto “Café & Fotografia” – conta como migrou do design para a foto, explica o atual momento da fotografia e observa as implicações da utilização do Instagram. Leia a seguir.

Muito Post – Quando começou o interesse pela fotografia?

André Rodrigues – Descobri a fotografia no curso de Design. Na real, minha aspirações da época era ser desenhista. Crescemos com HQ´s, quadrinhos, filmes, então, curtia muito charges, tiras como as de Angeli, Fernando Gonsales. Porém, também descobri que seria mais fácil fotografar uma árvore do que desenhá-la nos detalhes. O design ficou para trás, fui arrebatado para o jornalismo e fotojornalismo, fotodocumentarismo, a pressphoto. No decorrer do caminho encontrei um cara que disse que minhas fotos eram muito ruins (e acho que ainda são), rabiscou o título de um livro num papelzinho e falou: “vai ler”. Depois daquilo a leitura abriu minha mente e não teve volta. Melhor ficar longe!


MPQual é momento atual da fotografia profissional?

André Rodrigues – A fotografia teve seus dias de glória, mas como processo técnico sofre como muitas outros ofícios que dependem de relações de mercado como a oferta e demanda. No que diz respeito ao contexto criativo, ainda vai subsistir nesse contexto imagético. A alternativa para os fotógrafos é se diversificarem, ampliarem os conhecimentos e buscarem alternativas criativas mais abrangentes se ainda quiserem ter a fotografia como um projeto. Afinal, como disse um colega: “como vender algo que todo mundo já tem, que é entregue de graça?”. Esse é o dilema e desafio. Contudo, ainda não é o fim.


MP – Qual é a melhor foto que você fez e não esperava muita coisa?

André Rodrigues – Nunca espero muita coisa das minhas fotos! Mas a série “Iluminados”, especialmente a foto “Cabeça de Cavalo” foi além do que eu imagina. Começou com uma proposta para o extinto caderno G, da Gazeta do Povo (na epóca eu trabalhava lá), virou uma série e ganhou exposição, rendeu até um prêmio.

Cabeça de Cavalo de André Rodrigues
“Cabeça de Cavalo” por André Rodrigues


MPComo fazer para a imagem não ser descartável em tempos de Instagram?

André Rodrigues – Acredito que isso passa por alguns pontos desde a concepção à distribuição. Mas, na real, o mais importante é o porquê você faz aquilo. Qual a tua mensagem? Descartável ou não, isso vai ser inevitável. Falando nisso, o que atualmente não é feito para ser descartável? O que não é diluído nesse fluxo de informações?

Nessa espécie de capitalismo cultural ou criativo transestético, como destacam Jean Serroy [professor francês da Universidade de Grenoble (França) e autor de várias obras sobre a literatura do século XVII e sobre cinema] e Gilles Lipovetsky [filósofo francês, teórico da Hipermodernidade], tudo é feito para ser consumido rápido, ser efêmero, fluido, e não seria diferente com a fotografia. É o status do momento. Com pontos positivos e negativos. O resto é adequação. No que se refere a fotografia, outra questão a considerar, é que estamos num momento hiper imagético, em que todo discurso é intermediado por imagens, por pictures, por instantâneos. E ainda mais, o próprio conceito de fotografia se desloca numa espécie de elasticidade da contemporaneidade – vide observações de Phillipe Dubois [professor belga de Cinema e Audiovisual na Universidade Sorbonne (França)] com o questionamento do uso ordinário da fotografia: São mesmo fotografias?

O importante é continuar criando, produzindo, continuar em movimento, porque na real é um processo contínuo. E o legal disso é que não precisa ser algo extraordinário, de um ineditismo epifânico; mas sim verdadeiro, que tenha pessoalidade, singularidades e especialmente algo para dizer – objetiva ou nas entrelinhas. E isso pode ocorrer com as mais triviais das observações. (Aliás, não menospreze as características do ordinário). Se tiver apresentar algo novo, crítico, singular; melhor ainda!

Por isso, compactuo com essa coisa de trazer à existência, que chamo de materialização. Mas, assim, isso é algo particular. Venho de uma situação (geração), que nem tudo era disponível, as coisas não eram tão fáceis. Ter uma revista era uma espera, construir um brinquedo era parte do processo da brincadeira. As coisas eram um acontecimento. Você aguardava por aquilo. Hoje o movimento é diferente. As coisas caminham cada vez mais para imaterial. Então, conceber algo, criar, é quase por si só artístico (num sentido geral do termo) – e posteriormente ao público, nichos verdadeiros – uma alternativa.

Comentei dias desses que “fotógrafo de Instagram” só existe lá, onde tudo se perde e se dilui no ato rolar numa alienação contínua. Aliás, nem é entregue – veja as políticas e algoritmos da empresa. Nem sequer seus seguidores chegam a ver o que você fez/criou. Logo, no caso específico da fotografia, acho que vale pensar caminhos para ir além e não ficar vagando na busca de afagos, numa existência criativa dependente de likes e deslikes.

Milhares de imagens são produzidas diariamente, desde food, selfs, singles de todo tipo, e você está ali tentando um lugar. É uma luta insana e desmedida. São tantas coisas que corre o risco, como ressaltou Fernando Braune no livro Fotografia e Surrealismo, de ficarmos cegos é de tanto ver.

Por fim, faça, crie, produza, selecione, mas pense em publicar, expor, mostrar verdadeiramente. Que seja verdeiro na forma e no conteúdo. De resto é só saber que as redes sociais são apenas um meio para angariar um público e não o fim. Talvez, com um pouco de talento, criatividade e também sorte, de repente, o que a gente faz não naufrague no oceano dos pictures.


MPNa música “Babylon By Gus”, do cantor Black Alien, tem o seguinte trecho “Tirar foto é fácil, quero ver quem se retrata”; concorda com essa frase?

André Rodrigues – O verso carrega uma dose de verdade. Especialmente dentro do contexto, da história e pessoalidade desse artista, da música rap, da representação e vozes que ele carrega. Trazendo para algo mais genérico, a questão é que muitas vezes nos comportamos assim. Quantas vezes julgamos, quantas vezes atiramos as pedras, depois o tempo passa e vem a aceitação, a adequação. Fica mais fácil! Aliás, a aceitação passa por um longo processo. Somos meio que engessados nisso. Demoramos tempo para absorver.

Saiba mais sobre o André Rodrigues

Site oficial – https://andrerodriguesphoto.com.br/
Instagram – https://www.instagram.com/andrerodriguesphoto/
Twitter – https://twitter.com/AndrePictures

Dicas, reclamações, pautas, recados, xingamentos ou qualquer dúvida – clique aqui.

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