Por Anderson de Souza
Em 1989, estudei a primeira série no Colégio Erasto Gaertner, no bairro Boqueirão, em Curitiba (PR). Uma instituição de educação protestante ligada aos menonitas, portanto, alemã e muito rígida.
Era uma época cujo o aprendizado eu guardo até hoje. É praticamente a base de toda a minha vida. Mas o que mais me marcou foi o frio daquele começo de ensino fundamental.
Lembro que estudava de manhã e sofria muito para levantar, como a maioria das criança nesta faixa etária – principalmente no inverno.
A estação mais fria daquele ano foi muito rígida e eu usava camadas de roupas de lã que me faziam suar muito. Um gelado terrivelmente presencial em que a japona – nome regional para a conhecida jaqueta – era um item indispensável.
Dentro da sala de aula muitos coleguinhas tossiam e já apresentavam sinais de que iriam faltar nos próximos dias. Narizes escorrendo anunciavam resfriados e gripes que chegariam e que os acompanharia por pelo menos três meses. Um sofrimento polar que deixavam pais inquietos em seus trabalhos.
Algumas crianças pareciam pequenos ursos dentro dos ônibus, carros e ruas daquelas manhãs geladas. A paisagem corriqueira nas ruas Danilo Gomes e Waldemar Loureiro Campos, no caminho para o Erasto, era de poças congeladas, geada no campinho de futebol, vidros de carros com películas brancas, pinhas caídas e fumaças nos bueiros. Tudo de uma beleza incômoda.
No inverno de 2015, que já está chegando ao fim, não vejo mais crianças batendo os queixos e quase chorando do frio úmido curitibano. Alguns dizem que é culpa do “El Niño” e outros até relembram o inverno de 2013 com a volta da neve curitibana e um frio “de lascar”.
No entanto, a certeza é que não temos mais a impiedosa estação.
Se hoje os pequenos choram para não ir cedo para a escola, fazem isso somente por esperteza e não mais pelos calafrios do passado.
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