Como em todas as criações do coreógrafo Rodrigo Pederneiras, os movimentos do mais recente balé, “GIL”, nasceram da música. Mas a trilha engendrada por Gilberto Gil para o espetáculo do Grupo Corpo a convite do diretor artístico Paulo Pederneiras, chegou trazendo um paradoxal desafio ao coreógrafo: ali estavam, juntos e indissociáveis, o conhecido e amado Gilberto Gil… e um compositor inteiramente novo.
“Era um Gil que eu não conhecia e, ao mesmo tempo, o Gil de quem sou tiete desde que ouvi sua música pela primeira vez”, diz Rodrigo.
A solução do paradoxo – fenomenal síntese – sobe ao palco do Guairão na 29.ª edição do Festival de Curitiba, dentro da Mostra 2020, nos dias 30 e 31 de março. O programa duplo, com intervalo de 20 minutos, conta ainda com a coreografia de “Sete ou Oito Peças para um Ballet”, de 1994.
A fagulha inicial para erguer a coreografia veio, então, de fora da música – um gesto inicial, buscado no candomblé. “Gil é filho de Xangô e usei como ponto de partida o movimento associado à presença do orixá: uma das mãos do bailarino bate no peito e a outra, nas costas”, conta o coreógrafo. “E assim o balé começou a se construir”. A “riquíssima trilha”, nas palavras de Rodrigo, se traduziu nos duos, trios e conjuntos que se alinham e desarmam, nos uníssonos e contrapontos gestuais, peças sempre renovadas do vocabulário marcante do coreógrafo. As muitas singularidades de GIL, a bem da verdade, já haviam começado na proposta de Paulo Pederneiras ao compositor. “Gil sempre esteve no nosso radar”, diz o diretor artístico. “Na primeira conversa, já me veio a ideia de sugerir que a coreografia se chamasse GIL. Normalmente o músico tem liberdade total – e agora não foi diferente – mas a sugestão que se debruçasse sobre a própria obra se consolidou naquele momento. E GIL se inscreve, então, entre os compositores que dão nome a coreografias do Grupo Corpo – já tínhamos feito essa homenagem a Bach, Nazareth e Lecuona”.
Sete ou Oito Peças para um Ballet
A partir de oito temas surgidos da parceria inédita entre o instrumentista e compositor norte-americano Philip Glass e o grupo instrumental mineiro Uakti, o coreógrafo Rodrigo Pederneiras desvencilha-se, pela primeira vez, do rigor formal que marca suas criações para construir uma obra despojada, onde a partitura de movimentos emerge como uma série de esboços, apontamentos ou estudos para uma coreografia. Inacabados, na aparência. Mas irretocáveis, pela genialidade da forma.
Informações: [festivaldecuritiba.com.br].
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