Por Lélio Braga Calhau (*)
Chegamos ao final do “ano perdido” e nesta virada a reflexão sobre como foram os acontecimentos é inevitável. O campo financeiro não escapa disso. Sem dinheiro, muita coisa complica. Todo fim de ano, muitos de nós, param um pouco para meditar sobre o que deu certo e o que deu errado durante os últimos doze meses.
Neste ano fui mais longe. Procurei pensar no que eu diria para mim mesmo se pudesse voltar no tempo. O que o Lélio de 45 anos diria para o Lélio de 20? Acredite, quando se é jovem, você falha muito financeiramente. Alguns erros, como por exemplo, ficar trocando de carro sem necessidade, podem ter um poder devastador sobre o patrimônio de uma pessoa muitos anos depois.
O que é simples tende a ser mais fácil de ser aplicado pelas pessoas. Pensei, eu daria um bom livro de educação financeira para o Lélio de 20 anos. Mas, infelizmente muito jovens não gostam de ler. Bem, então, pediria mais humildade para reconhecer que a vida pode ter vários fatos financeiros muito negativos – imprevisíveis ou não – no decorrer de anos e que isso pode impactar também a vida do jovem. Nessa idade, a gente costuma só pensar no presente e não se atentar que o futuro chega mais rápido do que se pensa.
Ainda assim estaria numa abordagem meio capenga. Teoria demais para juízo de menos. Então, financeiramente, lembrei-me da questão de sempre economizar 10% do que se ganha e aplicar. Bem, 10% é muito para economizar, dá trabalho, e quase nada para investir. Mas, a verdade é que o jovem acha, em muitos casos, que basta pensar no presente e que o futuro será resolvido quando ele atingir essa idade. E as coisas não são bem assim.
Guardar 10% é algo muito simples. Recebeu R$ 1 mil, aplica R$ 100. Olha, alguém pode até ficar horrorizado. Como uma pessoa vai aplicar R$ 100 ganhando tão pouco? Isso tem resposta. O ser humano tem uma capacidade incrível de se ajustar a novas situações (quando ele quer). Tirar 10% para economizar dói e isso, em sendo aplicado, não muda tanto a vida no curto prazo. Mas no longo prazo, pode ser a diferença entre ficar rico ou não.
Qualquer valor aplicado de forma consistente ao longo de meses e anos, por força dos juros compostos, vai crescendo de forma exponencial. E quando eles chegam lá, a velocidade do crescimento do dinheiro é fortíssima. E aí, cresce muito mais forte e mais rápido também. Para chegar lá, tem que ter disciplina e foco.
Então, meu conselho final para o “Lélio de 20 anos” e todos os jovens que desejam atingir seus sonhos: economize 10% (ao menos) do que ganhar, aplique e seja frugal, vivendo abaixo da sua possibilidade. Fuja da ostentação e não queira acompanhar gente que tem o padrão de consumo mais elevado para fazer bonito, afinal galinha que anda com pato morre afogada.
Você pode ter outras estratégias financeiras que poderão te levar mais longe. Mas, guardar 10% sempre e aplicar, viver abaixo do que se ganha, vai te levar para um patamar fantástico em dez ou quinze anos. É muito simples. E se você não é tão jovem, não se preocupe, comece agora mesmo a sua caminhada financeira, um passo por vez, que você poderá chegar lá um dia também. Disciplina é tudo. Boa sorte e boas economias!
(*) Lélio Braga Calhau é Promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em Psicologia pela UNIVALE, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ, palestrante e Coordenador do site e do Podcast “Educação Financeira para Todos”.