Por Carla Alves e Silva e Anderson de Souza
O filme Legalize Já – Amizade Nunca Morre transpõe o simples retrato de como surgiu a banda carioca Planet Hemp. A película tem como pano de fundo, uma época do Brasil, que achávamos que tinha acabado.
O longa é atual e necessário para compreensão de muitos acontecimentos recentes em nosso País. O Brasil do começo dos anos 90 era de incertezas políticas, instabilidade econômica e de muita pobreza na música brasileira.
Qualquer semelhança com nossos dias não é mera coincidência, a eleição de 1989 é muito parecida com a polarização de 2018; nosso modelo econômico vive um grande incógnita – igual ao do período pré-plano real; e nossa música popular está afundada em péssimas composições em que apenas o ritmo e as batidas parecem importar (basta comparar a axé music da época com o sertanejo universitário de hoje).
Porém, nos anos 90, a nação viu o surgimento de várias bandas nacionais que fizeram muito barulho: Chico Science & Nação Zumbi, Pato Fu, Skank, O Rappa, Charlie Brown Jr. e o próprio Planet Hemp.
Essa última até hoje é considerada um marco no rock brasileiro, misturando rock, hardcore, ragga e rap. Muito antenado com som de bandas como Rage Against the Machine e Cypress Hill.
Seu primeiro disco “Usuário” talvez seja a melhor estreia daquela geração. A mescla de letras de protesto, desigualdade social, corrupção e legalização do uso da maconha faziam do Planet um vício automático nos ouvidos de muitos jovens da época.
Outro detalhe chama a atenção na obra dirigida por Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, a fotografia do filme traz a sensação de algo sujo, decadente, utilizando cores opacas e preto e branco, sendo que as cores mais vibrantes aparecem em situações que demonstram um certo “sucesso na vida”.
E, em meio a esse clima, coloca em evidência a luta dos amigos Marcelo (D2) e Skunk antes do sucesso e, mais do que isso, mostra quem foi o Skunk, personagem sobre o qual quase não ouvimos falar.
Skunk foi um dos fundadores do Planet e faleceu vítima da Aids, em 1994, o que retrata mais uma vez os anos 90, época em que essa doença ainda atingia níveis de epidemia.
O grande destaque do filme é a atuação impecável de Ícaro Silva. Ele vive um Skunk desajustado, inteligente, rebelde e muito engraçado. Assistindo ao longa, o telespectador tem quase a certeza de que gostaria de se tornar amigo do personagem.
Legalize já não é sobre maconha. É sobre a liberdade, amizade e o amor que resultou no Planet Hemp.
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