Por Reinaldo Dias (*)
Finalmente aconteceu o que todos esperavam, o presidente norte-americano Donald Trump se retira do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, cumprindo sua promessa de campanha e desconsiderando as consequências de seu ato para o futuro do planeta.
Além disso, Trump se retira do acordo adotando uma postura vergonhosa diante de todos os países do mundo, pois segundo a cláusula 28 do Acordo de Paris, qualquer país que tenha ratificado o acordo, somente pode solicitar sua saída três anos após sua entrada em vigor. Para os Estados Unidos seria em 4 de novembro de 2019.
Assim, Trump mostra para o mundo que não honra os compromissos assumidos por seu país assinados antes de seu mandato, retirando-se intempestivamente do acordo, desrespeitando as normas e mostrando ser uma liderança pouco, ou nada confiável diante das outras nações.
Intempestivo, arrogante e principalmente demagogo, pois argumenta que toma essa atitude para proteger os Estados Unidos e seus cidadãos, quando na verdade o faz para honrar compromissos com a indústria do carvão e do petróleo norte-americano que financiou parte de sua campanha eleitoral.
Trump envergonha o povo norte-americano, pois se alinha aos dois únicos países que não haviam assinado o acordo: a Nicarágua e a Síria. Provoca um retrocesso principalmente para os Estados Unidos que devem ficar à margem do desenvolvimento global, isolando-se numa política nacionalista retrógada e que se identifica plenamente com os setores mais reacionários da sociedade norte-americana.
Não é por acaso o ídolo dos suprematistas brancos, dos neonazistas e de todos aqueles que veem no desenvolvimento solidário e sustentável uma ameaça aos seus propósitos.
Só que Trump se engana. O mundo de hoje não é o mesmo daquele que viveu a maior parte dos dias e dos quais tem saudades. A história não volta para trás, mas avança aproveitando-se da experiência do passado para construir um futuro melhor para a humanidade. Alegar que a saída para o futuro está no passado e ilusão e uma farsa que pode custar caro a muitos. Felizmente o mundo mudou.
Em seu próprio país Trump encontra resistências na juventude preocupada com seu futuro e que se manifesta em oposição, como já o fizeram, momentos após o anúncio presidencial, mais de 60 prefeitos de importantes cidades entre as quais Pittsburg, Nova York e Los Angeles declarando-se contrários ao mandatário norte-americano e assumindo o compromisso de cumprirem os termos do Acordo de Paris.
O mundo está interconectado irreversivelmente. Os Estados Unidos são dos países mais avançados em termos de tecnologia da informação, seus cidadãos se comunicam diariamente com o mundo em suas diversas atividades.
É impossível o isolamento completo, como pretende Trump e certamente as interações de milhões de cidadãos formarão uma corrente de oposição às medidas anunciadas e em muitas regiões dos Estados Unidos, por decisão própria, as comunidades seguirão honrando o compromisso com o Acordo de Paris.
Embora a ausência dos Estados Unidos no acordo impacte negativamente, o mundo já reage. A Europa e a China anunciaram o propósito de formar uma aliança verde em contraposição à decisão norte-americana e pretendem firmar um acordo para eliminar completamente num futuro próximo a utilização dos combustíveis fósseis.
Deste modo, a política norte-americana freará a competitividade do próprio país em relação aos demais que avançarão inovando na busca de tecnologias que substituirão os combustíveis fósseis como fonte predominante de energia.
Os Estados Unidos se retiram, mas o Acordo de Paris continua, talvez agora com novo folego, fortalecendo ainda mais os laços entre as nações para resistir às decisões irracionais e populistas de uma liderança que caminha em direção contrária ao futuro, buscando um passado inexistente e superado pelo aumento da solidariedade e integração de um mundo que se tornou uma Aldeia Global.
(*) Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. É especialista em Ciências Ambientais e está disponível para entrevistas.