” (…) A primeira linha de defesa do mundo tecnoconsumista é transformar seu inimigo em mercadoria. Todos temos um exemplo favorito e sabemos citar os casos mais nauseabundos de mercantilização do amor. Eu mencionaria a indústria do casamento, os comerciais de tv com lindas criancinhas e a prática de dar automóveis como presente de Natal, além da particularmente grotesca equação que compara diamantes a devoção eterna. A mensagem, em cada um dos casos, é que, se amamos alguém, deveríamos comprar alguma coisa.
Um fenômeno relacionado a esse é a transformação, graças ao Facebook, do verbo curtir, que deixa de descrever um estado de espírito e passa a designar um ato que desempenhamos com o mouse: deixa de ser um sentimento e vira uma opção de consumo. E curtir é, no geral, o substituto da cultura comercial para amar. A característica mais notável de todos os produtos de consumo — sobretudo dos aparelhos eletrônicos e aplicativos — é o fato de terem sido projetados para ser bem curtíveis. (…)”
Trecho do primeiro ensaio “A dor não nos matará” (pág. 7), do livro “Como Ficar Sozinho” (Companhia das Letras), do escritor norte-americano Jonathan Franzen.
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