A infâmia na microcefalia

Por Beny Schmidt (*)
Nesse final de ano, a imprensa e o governo fizeram um estardalhaço e causaram neurose nas grávidas de todo o país com a notificação daquilo que chamou de uma epidemia de microcefalia. O já totalmente desacreditado e infame Serviço Unificado de Saúde (SUS) foi, entre outras coisas, acusado de distribuir vacinas vencidas contra rubéola à população.
A hipocrisia está no fato de que nenhum neuropediatra, neonatologista e, sobretudo, nenhum neuropatologista foram chamados para falar sobre o assunto. Aliás, a primeira pessoa a tecer comentários sobre esta má formação cerebral deveria ser justamente um neuropatologista.
Com todo respeito aos especialistas em moléstias infecciosas, é preciso ter o mínimo de bom senso para ouvir os profissionais que realmente conhecem a patologia. Um dos principais e verdadeiros compromissos do governo com a sociedade brasileira seria o de aproveitar esse sensacionalismo e ensinar ao povo a importância de se evitar os casamentos consanguíneos, que, infelizmente, são absurdamente frequentes no Brasil e que são a real etiologia das más formações e doenças hereditárias no nosso país.
(*) Beny Schmidt é chefe e fundador do Laboratório de Patologia Neuromuscular e professor adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele e sua equipe são responsáveis pelo maior acervo de doenças musculares do mundo, com mais de doze mil biópsias realizadas, e ajudou a localizar, dentro da célula muscular, a proteína indispensável para o bom funcionamento do músculo esquelético – a distrofina. Seu pai, Benjamin José Schmidt, foi o responsável por introduzir no Brasil o teste do pezinho.

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