Nas redes sociais, é cada vez mais difícil separar o que é genuíno do que é encenado. Mas, de vez em quando, os dois se misturam — e nem por isso perdem o valor.,
Foi o caso de um vídeo que assisti há alguns anos e do qual lembrei agora. Nele, um jovem senta-se ao lado de um morador em situação de rua e pergunta se pode usar o balde plástico que o homem tem ali, junto com suas coisas. Surpreso, ele diz que sim.
O rapaz, então, vira o balde de cabeça para baixo e começa a batucar, com ritmo e energia. Em poucos instantes, chega outro moço com um violão, depois uma moça, e todos começam a cantar como uma banda improvisada, bem ali na calçada.
A música começa a atrair curiosos. As pessoas se aproximam, filmam, sorriem — e muitas depositam dinheiro no chapéu que está no chão, diante do homem. Ao final da apresentação, os jovens pegam o chapéu e entregam todo o dinheiro a ele, que mal acredita no que está acontecendo.
A cena é linda, mas o mais importante veio depois.
Antes de compartilhar o vídeo, fui atrás de sua origem. Descobri que ele foi produzido em 2014 por três músicos alemães. Mas — e aqui está o detalhe mais surpreendente — a ação aconteceu, sim, mas não foi filmada.
Eles de fato fizeram aquilo: criaram uma pequena intervenção musical para arrecadar dinheiro e ajudar um homem em situação de rua. Mas decidiram não registrar a cena real, por respeito à dignidade da pessoa ajudada.
O vídeo é, portanto, uma reconstituição do que realmente aconteceu — com um figurante. E foi feito depois, com o objetivo de encorajar outras pessoas a fazerem algo parecido. Para mostrar que não é preciso muito para transformar o dia (ou a vida) de alguém.
Essa decisão muda tudo.
Num tempo em que quase toda boa ação vem acompanhada de um vídeo e uma legenda edificante nas redes sociais, eles fizeram diferente. Ajudaram primeiro. Recriaram depois. Com discrição, sensibilidade e inteligência.
Eles sabiam que não podiam resolver o problema da pobreza, mas sabiam que podiam amenizar, por um instante, as suas consequências.
É aqui que mora a lição: se não podemos agir nas causas — e poucos de nós podem —, ao menos não devemos nos omitir diante dos resultados. Sempre há algo possível de ser feito, um balde que pode virar tambor e um chapéu que pode ser preenchido, com ou sem música.
Nem todas as ações precisam ser grandiosas. Mas podem — e devem — ser sinceras. Feitas com o coração.
Para ver o vídeo, clique aqui.
Mínimas Que São O Máximo
“Há os que se queixam do vento.
Os que esperam que ele mude.
E os que procuram ajustar as velas.”
– atribuída a William Arthur Ward
Link do vídeo:
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