Cada vez que comparo os vinhos portugueses com os demais vinhos do mundo acho que eles ganham em diversos quesitos. O custo benefício com certeza é uma deles. Os vinhos de Portugal possuem alta qualidade, grande diversidade, e talvez pela colonização combinam bem com o nosso paladar e com o nosso clima, e também com o nosso bolso.
Você encontra vinhos portugueses que se adaptam à qualquer região do Brasil, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, não importa se faz calor, como no Nordeste, ou se faz frio como na nossa região, você encontra de tudo. São mais de 400 castas, ou tipos de uvas, que garantem o sucesso destes vinhos. Isso sem falar no Vinho do Porto, um vinho fortificado, digestivo, que é reconhecido nos quatro cantos do mundo.
No evento da Vinhos de Portugal que aconteceu semanas atrás no Rio de Janeiro e São Paulo tive a oportunidade de encontrar Antônio Maçanita, um jovem enólogo, repleto de premiações, que produz vinhos nos Açores, conjunto de ilhas no meio do Oceano Atlântico, distante 2h50 de vôo de Lisboa. Uma região de vulcões, onde o solo negro e cheio de pedras parece um local improvável para se plantar qualquer coisa, mas Maçanita não apenas conseguiu, ele fez sucesso.
Os vinhos brancos são os que mais se destacam, mas ele também produz vinhos no continente, no Douro e no Alentejo, que também são ótimos. Já fui diversas vezes aos Açores mas nunca tive a oportunidade de visitar a vinícola do Antonio Maçanita, que fica na Ilha do Pico, ao pé de um enorme vulcão que por vezes dá ar da graça. Nestas ilhas são comuns os terremotos que obrigam todos a abandonar suas casas e entrar em navios da Marinha que os levam para locais seguros.

Antonio Maçanita é um gênio. Fundou a Azores Wine Company em 2014 ao lado de Filipa Rocha e Paulo Machado.
Ele recuperou as castas originais da ilha, que chegaram por lá junto com os primeiros navegadores portugueses, e começou a produzir vinhos, a ganhar prêmios e a conquistar o mundo. No Brasil a gente encontra os vinhos deles, talvez mais os tintos que produz no continente do que os brancos que ele cria nas ilhas. Se tiver a oportunidade de experimentar, mande bala, será uma experiência nova. Recomendo o famoso branco Vinho dos Utras. 96 pontos Robert Parker. Ele tem 95% de uvas Arinto dos Açores e 5% de um blend de vinhas velhas. Um vinho que na taça tem uma cor palha, aromas marinhos (maresia), e na boca uma acidez cortante em apenas 12% de teor alcoólico. O problema é encontrar esse vinho facilmente por aí. Na safra de 2020 foram apenas 867 garrafas.

Esta semana tomei outro bom vinho português, aliás um ótimo vinho português, produzido pela Herdade do Rocim, o Vale da Mata. Tomei a garrafa número 3354 de um lote de 5347 garrafas de um blend de Touriga Nacional e Tinta Roriz. Um vinho com 14% de teor alcoólico produzido na Serra do Aire, em Cortes, região de Leiria. Para quem não sabe Leiria é cidade-irmã de Maringá. Um vinho com passagem por barricas de carvalho, que possui uma cor granada bastante intensa, aromas de folhas verdes e tabaco, e com taninos persistentes mas ao mesmo tempo suaves.
Um vinho um pouco difícil de encontrar no mercado brasileiro, já que em Portugal ele custa na casa dos 26 euros.
Lhes digo que vale o investimento, principalmente se você estiver em Portugal e puder acompanhar este vinho com um belo leitão assado.
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