Hoje vou até contrapor a nossa redação. Li matéria do nosso portal falando só sobre os pontos positivos do Mundial. E realmente eles existiram. Mas nem tudo são flores…
Antes de ser taxado de “turrão”, afirmo que gostei do torneio. A ideia é boa. O formato também me agrada. Sou totalmente contrário à fórmula “justa” de pontos corridos. Ela só seria justa se todas as equipes tivessem as mesmas condições de disputa. Por conta desse formato de play off é que tivemos um campeão que não chega a ser azarão, mas também não deveria ter conquistado o campeonato acaso a forma de pontos corridos fosse a forma implantada. Jogos de play off sempre são muito emocionantes e sempre capitalizam mais recursos do que jogos normais.
Dito isso, temos que começar a entender o que deu certo e o que deu errado.
O torneio, do meio para frente, até tornou-se atrativo. Aí sim os europeus começaram a se interessar e acompanhar. Começou a ter valor. Já estavam lá mesmo, aí ninguém queria perder. E repito: a continuidade dessa disputa só terá futuro acaso os europeus e a UEFA entendam que ele é bacana, que gera receita, que é importante para as equipes que estão sob o seu guarda-chuva. Se a UEFA começar a fazer dele mais um instrumento de visibilidade de seus associados o torneio ganha musculatura. Os europeus foram para os EUA com muita vontade de não estar lá. Mesmo com bons prêmios financeiros em disputa, para eles a Champions League vale mais institucionalmente. Agora, têm-se anos para fazer esse “namoro” ser melhor trabalhado e que culmine num “casamento” entre FIFA e UEFA. Se esse “casamento” tivesse acontecido antes, o torneio não precisaria ter seus direitos de transmissão vendidos por menos de um quarto do valor pretendido pela FIFA, por exemplo.
Outro ponto foi a escolha do país sede. Sei que foi como uma preparação para a Copa do Mundo que será lá em 2026. Mas talvez um país com mais raiz futebolística fosse mais apropriado para que essa primeira edição fosse realizada. Não é novidade para ninguém que o “soccer” não está entre os 3 esportes preferidos pelos americanos. Sua prática é até muito mais difundida entre as mulheres de lá. Os homens são muito mais apreciadores e praticantes de futebol americano, basquete, beisebol. Isso mostra um dos motivos pelos quais vários jogos tiveram que ter seus ingressos vendidos a preço de banana ou terem os espaços dos estádios completados por crianças e adolescentes de colégios locais. A adesão não foi bacana, principalmente no início.
E para nós brasileiros restou a constatação (disse isso desde a primeira coluna que tratou desse tema) que estamos numa prateleira intermediária e que só fomos lá para disputar, sem qualquer chance de ganhar. Claro que os canais de transmissão que compraram os direitos e a imprensa, tentaram vender uma ideia de grandeza. Mas temos que usar de nosso perfil analítico e não do perfil emocional. Nenhum clube daqui bateria de frente com os grandes europeus se eles estivessem plenamente motivados e engajados. Nas primeiras fases eles (os europeus) estavam com “sangue doce”. Quando a coisa efetivamente esquentou, o nível técnico absurdamente superior fez a diferença. Temos em nossas terras um bravateiro que come jabuticabas e que acredita que pode bater de frente com quem é a maior potência do mundo; por qual motivo acharíamos que também não teríamos bravateiros no futebol que pensariam ser superiores à Bayern, Real Madrid, Chelsea, City, PSG?
Enfim, torneio encerrado. Erros e acertos postos à mesa. O torneio não para em pé, em sua segunda possível edição, acaso não se contemplem alguns fatores: FIFA e UEFA trabalhando juntas; muito dinheiro em premiações; escolha acertada de sede; equacionamento de datas para que os times de continentes diferentes tenham igualdade de condições na disputa (evitando fim e início de temporadas); manutenção do sistema de disputa.
Eu torço para que tudo isso aconteça. Mais dinheiro e mais visibilidade girarão em torno do maior negócio de entretenimento do planeta.
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